terça-feira, 19 de outubro de 2010

Não Gosto de Festas

"A presente terra pode ser levada a sério em sua dignidade, sua glória, sua maldição..."
(Dietrich Bonhoeffer, em carta de 1940 a Theodor Litt)

Eu me sentia culpado por não gostar de festas, de não gostar de multidões, onde centenas de milhares de pessoas pulam, dançam, bebem, te empurram, te xingam e se dizem felizes.
Não eu não gosto de festas! Está decidido, não e não! Falo de festas onde as pessoas estão arrumadas, cheirosas, e se sentindo melhores que todos os outros que não estão ali; falo de festas onde tem musica alta e gente dançando (não sei dançar, seria esse o motivo?); falo dessas onde você tem que pagar para ouvir música que você não gosta (nunca tocam as bachianas nas festas em que vou); falo das que os estrogenos e os testosteronas se esbarram e pedem desculpas querendo se devorarem um ao outro; falo de festas infantis também, onde os adultos enchem a cara de cerveja e brigam com as crianças por estarem correndo e estourando os balões.
Não pensem que não gosto de gente feliz. Gosto, gosto muito de gente feliz, mas feliz de verdade, não a felicidade que termina na quarta-feira de cinzas ou na segunda com uma ressaca que não lhes permitam produzir bem no trabalho até ao meio dia.
Não me sinto mais na obrigação de gostar de festas (nem as religiosas me interessam mais), estou ficando mesmo velho e começando a me preparar para coisas mais fúnebres, como começar a perder parentes e amigos queridos, e as festas, nesses momentos me parecem uma ofensa, me parecem ofensa porque perdi as esperanças de que o mundo possa ser melhor, de que a religião possa trazer algume beneficio, que a cura da AIDS possa acontecer a qualquer momento, perdi todas as esperanças de que os políticos resolvam os problemas da saúde, educação, segurança e outras mazelas de nosso país...
Essa desesperança, como no texto de Paulo Brabo que posto aqui, me desautoriza a exercer a auto-ilusão, num momento em que uma música eletrônica, ou um trio elétrico me estoura os tímpanos...
Queria uma rede, uma morena de olhos verdes com cheiro de flor de laranjeira, uma água fria da moringa e uma sanfona branca tocando Luiz Gonzaga... seria uma festa, mas seria só minha, é que quando se vai envelhecendo, as alegrias e as dores parecem cada vez mais pessoais e solitárias...

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