domingo, 21 de agosto de 2011

Manuscrito do pensar.

Tenho a impressão de que a cada dia aprimoro meus sentidos, ouvindo músicas boas, sentindo cheiros melhores e tocando em peles mais macias...
Era um sonho que trazia comigo: EVOLUIR. Mas para isso tive que me livrar de parasitas que me impediam voar.
Assim fui percebendo que estar bem era mais uma questão de adaptação a algumas exigências da natureza humana, na qual consistia em exigir que fossem comigo o que eu sou com as outras pessoas. Respeito, carinho, consideração, amizade, fidelidade, tudo isso de forma recíproca, se dou tenho que receber em troca, se não na mesma intensidade pelo menos na mesma intenção.
Chega um momento crucial na sua vida em que você pára de se lamentar de que está sendo usado, humilhado, tratado de forma injusta, e passa a agir de forma a se estabelecer como um ser humano de verdade, pelo menos para você mesmo. Assim você começa se livrando dos parasitas, agregando aos seu grupo de amigos pessoas com gostos e níveis intelectuais que lhe fazem crescer.
Mas uma coisa é bom que se diga, os parasitas sempre encontram corpos desavisados para apoiarem suas patas e sugarem até a última gota, mas com o tempo, também aprendi que isso não é problema meu!

sábado, 20 de agosto de 2011

A puta em casa!

Arte: Eduardo Dominici
Mulher devassa de uivos noturnos
Nas mais diversas camas
Onde lhes pagam homens e mulheres
Meninos e velhos em chamas

Manhã cedo hora de amamentar
Fita os olhos na estrada sem destino
Agora a puta nada mais é
que a doce mãe de um menino 

sábado, 13 de agosto de 2011

A Viagem!


Alex sentia uma enorme dor de cabeça, parecia que tudo girava ao contrário e teve medo de abrir os olhos e a dor aumentar.
Percebeu que aqueles não eram seus lençóis e um cheiro de cebola e sangue no ar lhe causava náuseas.
Abriu os olhos e o escuro era imenso, não se lembrava de nada, a não ser a discussão com Elena e nada mais.
Há muito tempo que brigavam, na verdade ele sempre se recusou a qualquer espécie de contato com sua ex-esposa, mas ela sempre insistia em lhe procurar, em qualquer lugar que estivesse, fazia escândalos e lhe provocava das maneiras mais distintas possíveis. A última vez tinha sido em seu trabalho, ela, além de palavrões e gestos obscenos, dessa vez o agrediu fisicamente na frente de seus colegas de trabalho.
Não podia fazer nada, a não ser se defender e procurar se manter calmo enquanto os seguranças a tiravam de lá.
Na verdade ele não entendia muito o que Elena queria, ela o tinha traído, e agora, que seu namorado tinha terminado com ela, queria voltar, recomeçar tudo, fazer uma nova história.
Alex estava com uma nova relação, uma pessoa de outro país, Christie, húngara que morava na Itália a três anos e vinha ao Brasil todos os meses, numa assessoria a uma multinacional.
Mas como tinha vindo parar ali?
Tateou pelo escuro e percebeu que estava sobre uma cama grande, uma cama de casal, sentou-se e a muito custo levantou-se, tropeçou em alguma coisa, desviou e procurou algum botão que acendesse as luzes.
Quando conseguiu seus olhos arderam ante à claridade, quando se habituou à luz, olhou com calma e um certo espanto.
Um quarto desarrumado, coxas e lençóis largados pelo chão, uma TV de plasma caída ao chão com a tela quebrada e uma fina fumaça branca saia pela rachadura.
Copos, garrafas, talheres, pratos, tudo largado ao chão como que denunciando uma violenta luta.
Deu a volta para ver onde tinha tropeçado.
O grito não saiu. Sua boca abriu e ele esperou ouvir o próprio grito, mas estava assustado demais.
O corpo de Elena, com várias perfurações de faca, muito sangue escorria para debaixo da cama.
Ficou alguns minutos sem ação.
Olhou para suas mãos e percebeu que não havia marcas de sangue em qualquer parte de seu corpo e suas roupas estavam limpas.
Tentou se localizar e percebeu que estava em um hotel.
Sobre o criado mudo um relógio: 04h30min.
Foi ao banheiro e viu sangue na pia, no Box, na banheira, sinal de que alguém havia se lavado, mas quem seria?
Uma mancha que formava uma mão de sangue estava no espelho, mediu o tamanho com sua mão esquerda, era o mesmo. Aproximou-se e viu que as digitais coincidiam com as suas.
Foi ao telefone e ligou para a recepção.
Do outro lado um rapaz que parecia estar acordando o atendeu com um mau humor que lhe incomodou.
Perguntou  alguma trivialidade e desligou.
Pensou em ligar para a polícia, porém essa idéia logo lhe abandonou.
Resolveu sair, deixar o corpo de Elena lá mesmo e ira para Itália.
O dia rompia no horizonte.
Alex pôs sobre o corpo de Elena um lençol, pois aquela visão lhe dava medo.
Tentou relembrar o que tinha acontecido. Como tinham chegado, o que tinha realmente acontecido antes e durante a estadia no hotel. Mas sua mente não lhe ajudava nem um pouco.
No elevador cumprimentou um casal de idosos e ajudou um cadeirante a entrar de ré.
Não tomou café.
Na recepção disse que sua esposa não se sentia bem e que iria comprar o remédio dela numa farmácia especializada.
Sua mente queimava. Mas mantinha-se estranhamente calmo.
Pediu que o rapaz lhe chamasse um táxi.
Desceu dois quarteirões antes de seu apartamento na Av. Airton Sena.
Andou, descobriu que era domingo, então não teria que ir trabalhar.
Em casa tudo em ordem.
Um recado na secretária eletrônica:
“Alex, precisamos conversar...” era a voz de Elena.
Apagou a mensagem.
Na parte de baixo do guarda-roupa pegou o passaporte.
No cofre, próximo ao criado-mudo pegou alguns euros.
Ligou para Edna, sua amiga que trabalhava na empresa aérea e conseguiu uma passagem para São Paulo no vôo que saia a duas horas.
Algumas roupas na mala.
Mais um táxi.
No Aeroporto de Milão Christie estava linda de azul.
O frio era intenso e ela lhe trazia uma jaqueta.
Cobriu-se.
Beijou-a.
Os noticiários exploraram a história por alguns dias.
Hoje nem eu mesmo me lembro mais desse episódio.
Alex me ligou semana passada e pediu que lhe fizesse um favor: enviasse um vinho do Vale do São Francisco.
Fiz.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

À lápis

Com grafite
penso nas estradas
que passei
onde minhas ex-amigas estão
sentadas, catatônicas
esperando o verbo
a carne e o pão...
Com borracha
aceno um adeus
que minha vida agora
anda de avião

sábado, 6 de agosto de 2011

Eu penso que:

VENDO ALGUMAS AMIZADES ANTIGAS, DESCOBRI PORQUE NÃO TENHO AMIGOS ATUALMENTE

Noite.

Eu poderia dizer que isso tudo vai passar, que o tempo cura, que as coisas vão ser diferente e que você vai aprender com tudo isso... mas você não vai aceitar, porque precisa acreditar que é o fim... Agora sua necessidade vital é sofrer.
Sei muito bem como são essas coisas, suas mãos suam, seu peito procura ar e não encontra.
Então um misto de coisas ruins te assolam, você se sente feia, analfabeta, incapaz, e não vai adiantar nada agora, se eu disser o contrário estarei parecendo um idiota que não sabe das coisas.
Em sua cama, em seu travesseiro encharcado encontrará mais consolo do que em minhas palavras, então vá para seu quarto, deite em sua cama e encharque esse travesseiro e nada mais tente fazer.
Não queira ser melhor do que já é.
Goze cada lágrima, cada dor, cada desapontamento, viva isso como se fosse a única pessoa no mundo a ser traída, pisada, humilhada, faça dessa dor sua última refeição.
Deixe que a noite te engula e te cuspa como se você fosse um pedaço de pão dormido.
Nada posso fazer, nem eu nem ninguém.
Amanhã o tempo dirá o que fazer com esses pensamentos que te assolam.
Mas hoje, só por hoje se permita perceber que a vida é mesmo cruel e os amigos, e os parentes, e seu amores não são nada, a não ser um monte de coisas juntas dispostas a mostrar como você não vale nada.
Amanhã?
Ah... o amanhã...  (nem sei se sobreviveremos a essa noite).