terça-feira, 19 de abril de 2011

Tirando a sujeira de meus pés.

Por Júh Costa no Rabisco Criativo



Em tempos onde se prega a mudança de atitudes em prol da vida no planeta, surge uma famosa marca de calçados e acessórios surge com uma nova e absurda coleção. Na contramão do desenvolvimento sustentável, a Arezzo lançou uma coleção com peles verdadeiras de indefesos coelhos, cabras, raposas e outros tantos que nem foram citados. Moda? Para mim isso tem outro nome: crueldade. (Entenda aqui.)
Li em alguns blogs pessoas defendendo a marca, justificando que se nós comemos a carne de animais, porque não usá-los como "alimento" da moda.
Eu digo o porquê. Porque não estamos mais vivendo em cavernas obscuras. Já descobrimos o conhecimento ao sermos apresentados a luz. Não faz sentido sucumbir à própria ignorância.
Atitudes como a dessa empresa não é algo inédito. Inúmeras marcas pelo mundo levantam essa bandeira, segundo elas "em nome da moda!" 
Meu sentimento? Vergonha! Aliás, vergonha de ser humana é o que mais tenho sentido nos últimos tempos e tantas vezes já citei isso aqui no blog.
Ecochata? Ambientalista frustrada? Já ouvi todo tipo de palavras que ridicularizam minha condição de defesa da vida do planeta.
Não sou um produto ecologicamente correto. Aliás, não teria como eu ser vivendo em uma sociedade que não me oeferece recursos para isso. 
Mas tento em atitudes e palavras fazer a parte que me cabe.
Matar animais para se vestir?Algumas pessoas já estão "se matando" pelas primeiras peças da famigerada coleção. Comprem, usem, desfilem por aí todo orgulho de se sentir cúmplice de assassinos disfarçados.
Desejo que um dia sua pele seja tão cobiçada quanto a desses animais e quem sabe, também um dia, eu a use. Não para me vestir, mas para limpar a sujeira dos meus pés, adquirida nos lugares por onde ando nesse mundo podre.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um herói para o Bial!

Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância de sete agentes federais fortemente armados. Oliveira é juiz federal em Ponta Porã , cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário, sob forte escolta. Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. 'A única diferença é que tenho a chave da minha prisão.'


Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar US$ 300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu a vara de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas.Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País.
Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares , 3 mansões - uma, em Ponta Porã , avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte.


'Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$100 mil.' No dia 26 de junho, o jornal paraguaio Lá Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. 'Estou valorizado', brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado.

Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa. 'No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a PF.' É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande. O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. 'Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada..'

Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta. 'Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade.' Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir. Hora extra. Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso. Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu 'bunker', auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos , condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas. O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.


Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o 'rei da soja' no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. 'As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados.' O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha 'dever de ofício' enfrentar o narcotráfico. 'Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança.'

Sei que poucos tomaram conhecimento desse caso, inclusive eu, soube porque uma amiga me mandou um e-mail, mas fico pensando, como o Bial chamaria esse Senhor, se os BBB's são heróis, o que seria esse Homem?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tasso da Silveira!

Dias viajando pelo sertão, conhecendo gente, desbravando estradas, numa perspectiva de estar trilhando algo bom e novo.
Há tempos que as coisas não pareciam acontecer, tudo dava errado, de repente surge uma oportunidade e você sente que ainda existe uma janela do céu aberta para você e resolve voltar a acreditar nas coisas.
Mas uma coisa abalou a gente esses dia, quando Wellington Oliveira entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, na rua General Bernardino, em Realengo, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro e, com dois revólveres, entrou nas salas de aula e atirou na direção de crianças. Doze morreram e dez continuam internadas.
Não precisa ser pai ou mãe para se sentir chocado e comovido. Nunca gostei de postar nada aqui sobre notícias desse tipo para não parecer piegas ou apenas mais uma voz contra algo que esteja na mídia, mas vou deixar aqui um poema do Tasso da Silveira, poeta que dá nome a escola, local da covardia de uma mente doentia.

FRONTEIRA

Há o silêncio das estradas
e o silêncio das estrelas
e um canto de ave, tão branco,
tão branco, que se diria
também ser puro silêncio.
Não vem mensagem do vento,
nem ressonâncias longínquas
de passos passando em vão.
Há um porto de águas paradas
e um barco tão solitário,
que se esqueceu de existir.
Há uma lembrança do mundo
mas tão distante e suspensa...

Há uma saudade da vida
porém tão perdida e vaga,
e há a espera, a infinita espera,
a espera quase presença
da mão de puro mistério
que tomará minha mão
e me levará sonhando
para além deste silêncio,
para além desta aflição.