quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A Partida!


O sentimento era de perda total, perda de algo que atrapalhava o caminho, tipo uma pedra, um cisco no olho, uma árvore caída. Era urgente se livrar dela, pois em nada ajudava, nada somava, nada contribuía, não era nada, indo, nem rastros deixaria...
Livrar-se dela era como ganhar um certo tipo de asas, pensou, pois era um homem de muitos pensamentos, de muitas letras e livros, pensou no que perderia, olhou o quarto vazio, a sala, a cozinha, toda a casa era mais tranqüila sem sua presença angustiante, de mulher que com tudo implica  e nunca está satisfeita.
Sentou-se na varanda e esperou que ela chegasse.
A noite chegou e ela não apareceu.
Preparou café e terminou lentamente o Graciliano que lhe acompanhara a ultima semana.
Às três ela apareceu cheirando álcool e cigarro, não achou que seria o melhor momento para dizer que não a queria mais ali.
Pela manhã esperou-a acordar, o que só aconteceu por volta de meio-dia, e, como sempre o mau humor era como uma nuvem negra a tomar conta de toda a casa.
- E não foi trabalhar?
- Não! Quero conversar...
- Tô afim não.
O amor que lhe guardara se transformou em ódio, a voz dela, a grosseria, as músicas ridículas que ela ouvia, sua falta de argumento lhe enervava de tal modo que cada palavra vazia (sempre de cada par uma quase sempre era um palavrão), lhe parecia uma ofensa.
Quando ela acendeu o cigarro (lhe pareceu mais uma ofensa, pois já havia determinado que não deveria fumar dentro de casa).
Ele lhe dirigiu algumas palavras e ela não lhe deu qualquer resposta.
Ao lhe dar as costas ele lhe desferiu um golpe mortal com uma garrafa de vinho, ao cair, a mulher bateu a fronte na pia ainda cheia de pratos sujos e caiu ofegante, bolhas de sangue lhe saía pelas narinas, ela lhe olhava agora sem toda aquela arrogância dos últimos meses.
Ele a fitou em silêncio. Em vão ela tentava se mexer, mas suas pernas não obedeciam.
Postou-se sobre ela ao abrir a gaveta de onde retirou o cutelo que dividira em 10 vezes no hiper.
Ajoelhou-se e os olhos dela eram puro pavor.
Começou cortá-la, pedaço a pedaço.
Aos pouco percebeu que ela ia morrendo, lentamente.
O sangue escorria obedientemente pelo ralo da área de serviço.
O trabalho durou toda a tarde, os pedaços da mulher foram colocados nos dois baldes de roupa suja.
O restante da noite foi dedicado à limpeza da área.
As vísceras foram dadas aos cachorros da vizinha, Dona Ida, que tinha ido passar o fim de semana em Pojuca com a cunhada e lhe deixara responsável pelos seus cães famintos e sempre insaciáveis.
Durante um mês comeu da carne da mulher, agridoce carne de mulher.



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