quarta-feira, 26 de maio de 2010

VOAR NÃO É PARA TOLOS


Há muito tempo a humanidade era dividida em três grupos, os que voavam, os que tinham asas e não sabiam voar e os que não as tinham.
Cansados de serem explorados os que tinham asas resolveram marcar uma grande assembléia entre si e os que não tinham asas.
Depois de muito discutirem resolveram que a melhor solução seria que se juntassem com os que não tinham asas para lutarem pelos seus direitos.
Os que não tinha asas acharam boa a idéia de se juntarem com os que tinham asas e não voavam, pois era o mais perto possível que poderiam chegar dos que voavam.
Então os dois grupos se juntaram e pensaram que eram um grupo só, resolveram fazer uma revolução e iriam atrás de seus direitos, mesmo que os sem asas não soubessem bem o que isso significava.
Num desses belos pôr do sol um dos lideres do grupo (um desses que tinham asas) descansava suas penas sobre o penhasco, quando recebeu com grande surpresa um dos lideres dos que voavam.
- Salve nobre amigo, vejo que aprecia um belo pôr do sol.
- Sem dúvida que aprecio, entretanto para chegar a esse penhasco demorei mais de três dias e três noites...
- Ah... para mim é muito fácil estar aqui...
- É, imagino – disse o que tinha asas mas não voava, sentindo-se humilhado.
- Posso ensina-lo a voar, poderás então ver que maravilha é ver todo o nosso vale do alto...
- Como?
- Ah... meu amigo, é muito simples, em apenas uma lição te ensinarei, podes me encontrar aqui na quinta-feira da próxima semana?
- Claro que sim.
Despediram-se e cada um seguiu seu rumo.
Na reunião de sábado entre os que tinham asas e os que não tinham, o então líder ficou mudo quase todo o tempo. Falou depois com alguns amigos que aquilo tudo não daria em nada, pois se desde o principio dos tempos que a vida era assim não tinham porque mudar, era a lei da natureza, uma regra que teriam que obedecer sempre.
Um a um foi conversando, ora com um dos lideres dos que tinham asas, ora com um dos que não tinham asas...
Aos poucos foi convencendo a todos que aquilo tudo era uma grande perda de tempo, que nada mudaria.
Como resultado na reunião convocada para a segunda-feira seguinte poucos compareceram e na de terça-feira mais nenhuma pessoa se fez presente...
Na quinta-feira lá estava ele no local que havia marcado, banho tomado, penas lustradas e até o bico tinha recebido uma dose especial de creme para bico.
Não demorou muito e um dos que voavam apareceu, era outro representante do grupo, um cara mau encarado, de penas escuras e mal cuidadas, monossilábico e grunhia entre cada palavra.
- Queres aprender a voar?
- Sim, és meu professor?
- Sou...
- Salta desse precipício que te acompanharei dando todas as dicas necessárias.
Confiantemente o que tinha asa e não sabia voar saltou para a morte eminente.
Enquanto isso o representante dos que voavam rumou em direção ao horizonte...
(David, Euclides da Cunha, quarta-feira, 26 de maio de 2010).

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