domingo, 20 de junho de 2010

Mea culpa, Saramago



Danilo Fernandes

Eu não gosto da literatura de Saramago. Não por preconceito por conta de suas crenças (e não crenças) acerca do cristianismo e de Deus. Sua genialidade é inegável, eu reconheço isto, assim como reconheço a genialidade dos impressionistas Monet, Degas e Renoir, mas logo me canso deles e penso que a perfeição só aconteceu com aquele que estava a frente de seu tempo, inclassificável (assim chamado de pós-impressionista), por outros a ligação entre a estética do passado e da modernidade e, para mim, longe de ser “uma passagem”, foi o ápice da expressão estética humana: Van Gogh.

Mas isto sou eu. Você pensa diferente. E eu mesmo posso mudar de opinião, como mudei recentemente. Não tem muito tempo, me vi escrevendo um artigo sobre uma pessoa recém falecida que tinha uma visão heterodoxa acerca da Bíblia e, por isto vivia uma fé vazia e, assim o fez, até o dia de sua morte. Ao escrever sobre isto, no intuito de usar um momento de impacto e reflexão - a morte - para falar do Evangelho e da urgência de nosso encontro verdadeiro com Cristo, dada a brevidade de nossa vida, na ocasião. Acabei incomodando muita gente.

Não que eu tenha mudado de opinião sobre o que disse, tão pouco desconheço que desde Eclesiastes somos mesmo influenciados a usar deste argumento – brevidade da vida – para admoestar irmãos, contudo já não o farei mais nestas ocasiões, tanto mais falando de ímpios.

Saramago me incomodava. Saramago estava errado sobre Deus e muitas outras coisas. A densidade artificial da literatura de Saramago me cansava. Eu gosto da estória bem contada e dos personagens que crescem no enredo, Saramago preferia expor suas verdades, ao custo da trama. Ele preferia o desafio da "relevância" político-social da obra, eu gosto da viagem literária. Nada que não seja inconciliável, Garcia Marques oferecia relevância política e social às suas obras e, de quebra, era um tremendo contador de estórias...

Suas convicções políticas me irritavam. Sua defesa de caudilhos comunistas desafiavam a minha crença na sua inteligência e até mesmo sobre internet e blogs – ele desprezava os blogs – suas opiniões me causavam mal estar... E, talvez por isto, por esta sua capacidade de ser genial e diferente (e inconseqüente, surpreendente, irascível e brilhantemente desconcertante), Saramago me provocava tanto e, agora, na sua morte me incomodou mais uma vez e me fez repensar certas atitudes.

Mas não o fez sozinho. Outro português o ajudou.
Brissos Lino no FACEBOOK deu o último golpe ao escrever:

Amigos, com toda a franqueza, não gosto do tom de alguns comentários que aqui li a propósito da morte de Saramago.

Não subscrevo essa espécie de "cristianismo caceteiro" neles implícito e em que não me revejo.
Jesus Cristo nunca foi duro para com os "de outra fé" mas sim para os religiosos hipócritas.

Lembro aqui o que diz a Bíblia: "Deus não tem prazer na morte do ímpio".


Mas alguns cristãos - curiosamente - parece que têm...





Danilo Fernandes aprendendo com os amigos virtuais no Genizah


Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz0rSjx8E9r
Under Creative Commons License:
Attribution Non-Commercial Share Alike

Nenhum comentário: