Uma a uma as telas vão se acumulando ao lado da sala numa tão bela e organizada bagunça que o artista nela vê uma outra obra de arte.
De olhos e bigodes grandes ele não sente mais o cheiro da tinta que ainda incomoda alguns vizinhos que de vez em quando aparecem nas calçadas.
Dorme pouco, sua mente não consegue parar, por isso pinta, pinta e pinta e acumula os seus belos quadros ao longo do casarão com histórias grudadas nas paredes...
Não se lembra do passado, de quando criança, das brincadeiras, de nada, na verdade nem lembrava se já fora criança um dia...
Sua mão nervosa pintava, pintava e mais nada sabia fazer...
Um dia acordou lembrando de algo, era o vulto de uma mulher e como sempre sentou-se frente ao cavalete ao lado das tintas e pincéis, mas estranhamente não conseguiu traduzir o que sentia.
Frustrado o dia passou!
Outros dias foram chegando e passando e o artista não pintava mais...
Agora começava a lembrar do passado, dos dias de chuva nas ruas de Petrolina, dos banhos de rio e das brincadeiras com amigos.
A solidão começou a lhe incomodar, lembrou que não tinha mais amigos, que sequer conhecia seus vizinhos.
Passeando por entre os quadros se sentiu absorvido por eles, viajou em cada um, grandes lagos, montanhas, desertos... Nenhuma mulher, criança, homem, não havia pessoas nem animais em seus quadros, em vão procurou a mulher de seus pensamentos...
Ao voltar em si o artista viu seu corpo caído ao chão, pessoas estranhas entravam e saíam do antigo casarão, bombeiros, policiais, médicos, e por fim os homens do IML.
Continuava sem vida..
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