Tínhamos andado por toda a manhã. O sol causticante da caatinga parecia inclemente no sertão de Canudos, podia-se ver e ouvir as favelas estourando, como se libertassem da casca.
Osminda nos recebeu com um belo sorriso sem dentes. O cheiro de carneiro cozido tomava conta do ar dentro da casinha humilde e limpa, e uma brisa fresca que entrava pela porta da cozinha contrastava com o inferno lá de fora.
A grande mesa de madeira coberta com plástico branco com grandes hibiscos vermelhos em destaque.
Nada de geladeira, microondas, tvs, essas coisas do mundo de fora, que não saberia usar, nem lhe seriam uteis.
Contou-nos uma história de sua infância enquanto colocava na mesa um fumegante prato de carne.
Lá fora um redemoinho próximo à cisterna.
Nos disse Osminda olhando pela janela da cozinha:
"... sabe? acho que a grande coisa que a igreja faz com a gente é meter medo... temos medo de tudo e a culpa é dos padres e dos pastores, temos medo dos sem-terra porque eles podem acabar com os grandes proprietários, temos medo dos gays porque eles podem acabar com a familia, temos medo do dinheiro porque poderia nos afastar de Deus, temos medo da pobreza porque odiaríamos a Deus... Tudo é baseado no medo..."
Osminda era assim, falava do nada, depois ficava em silêncio como que pensando em suas próprias palavras.
Nós apenas andávamos na caatinga para comer de sua inteligência e de seu carneiro guizado.
Ficamos em silêncio, como sempre...
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