sábado, 19 de fevereiro de 2011

Gisberta.

Gisberta era gorda, pesava uns 130 quilos, isso quando parou de pesar na balança da padaria, (sempre achou estranho que tivesse uma balança na padaria) onde sempre depois do colégio passava pra comprar os sonhos.
Naquele dia (que parecia um dia normal), tudo começou como sempre, levantou às 6:31 em ponto, tomou banho, pôs a farda da empresa onde trabalhava, tomou café e saiu, morava perto do emprego, podia andar devagar, pois o caminho era gostoso, cercado de flores e com árvores por toda sua extensão, o clima bom do mês de maio a fez se sentir bem.
Estranhou quando seu Alberto não respondeu ao seu bom dia, mas pensou que talvez os problemas com Dona Elvira, o tenha feito ficar sisudo, tinha sido assim nos ultimos dias.
Andou pelo corredor e ninguem parecia lhe notar, estranhou mais ainda quando não achou sua cadeira (a reforçada) próxima a sua mesa.
-Onde está a Gisberta? ela não é de se atrasar... - falou Rosinha, a de nariz grande e pontudo.
-Olha eu aqui, disse Gisberta em tom jocoso, mas ninguém lhe deu ouvidos.
Começou a achar que era brincadeira, olhou em volta e todos estava absortos em seu afazeres, ninguem lhe deu ouvidos.
Dirigiu-sa a Gilza sua melhor amiga (confidente de regimes e dietas), mas a morena sequer lhe deu atenção.
-Gente, vamos parar com essa brincadeira, por favor...
Nnguém lhe reponde ou sequer lhe dirige os olhares.
Seu Alfredo, o chefe da repartição entra apressado e grita:
-Cadê a gorda?
-Não veio ainda, disse Matias, de cabelo colado na testa para disfarçar uma cicatriz.
-Que porra, logo hoje, que é aniversário de seu Gomes, agora fudeu... liga prá ela.
-Ja ligamos mas ninguem atende, já estamos começando a ficar preocupados, ela nao é  de se atrasar, disse Rosinha se aproximando insinuosamente para seu Alfredo (era época de promoção e aumentos).
Gisberta falou alto, gritou, tentou tocar nas pessoas, mas nada acontecia, estava mesmo invisível, ou pior: "morta".
Um frio lhe percorreu a espinha, então era assim que era estar morta? como se tivesse tudo bem? e a luz, e os anjinhos, e as trombetas, essas coisas... e as outras pessoas mortas? onde estariam?
Uma certa tranquilidade tomou conta de sua alma, se era assim, tudo bem, ficou mais ansiosa que com medo do que poderia vir...
Então já que era assim, resolveu andar pelo prédio enorme, onde funcionava o Fórum da cidade, ao qual a empresa onde trabalhava prestava serviços na área de informática.
Andou pelos corredores e brincava em assoprar perto das orelhas das pessoas, que sentiam, mas não sabiam explicar o que era...
Queria ir para casa, ver seu corpo morto sobre a cama, não se lembrava de ter sentido dores ou qualquer mau estar, estava até se sentindo com saúde esses ultimos dias, poderia apostar que estava até perdendo peso.
O tempo foi passando e Gisberta andou por todas as salas, assistiu audiências, viu acordos, ouviu fofocas, entrou no banheiro dos homens e no das mulheres viu Ana e Bruna se beijando...
O dia passou rápido, voltou para dar uma ultima olhada em sua sala antes de ir para casa, lá encontrou todos reunidos e cantando parabéns para Seu Gomes, o grisalho. O homem mais bonito que tinha visto em toda sua vida. Esperou para ouví-lo falar, adorava a voz grossa dele. Em sua fala Gomes perguntou pela Gisberta, o que a deixou bastante convencida.
Hora de voltar prá casa, estava nervosa para ver o que tinha acontecido, andou o mais depressa que pôde. Suas mãos tremiam ao girar a chave na maçaneta, achou estranho que a louça do café da manhã estivesse sobre a mesa, pois se estava morta desde cedo, como poderia ter comido alguma coisa, será que morrera apenas depois que saiu de casa? Receosa foi ao quarto e não viu seu corpo. Sentou-se ao lado da cama e um sono como sem igual tomou conta de si, dormiu sem tomar o mágico banho da noite.
No dia seguinte tudo de novo, não entendeu nada, então achou que tinha sonhado.
Mas ao chegar ao trabalho todos perguntaram porque não tinha vindo no dia anterior, pois até seu Gomes, quando agradecia pela homenagem de aniversário, tinha perguntado por ela.
Olhou Para Ana e Bruna que trocavam olhares, olhou para todos e disse:
- Ontem não deu, tava a fim de sumir por uns tempos, acho que consegui.
Não entenderam e voltaram ao trabalho.
Gisberta nunca teve coragem de contar que um dia tinha ficado invisivel.

Nenhum comentário: