CAPÍTULO 01
O ENCONTRO
Tínhamos um trato. Era um trato simples, dado às circunstâncias do momento, era um trato até razoável do ponto de vista de uma convivência pacífica.
Embora eu fosse 20 anos mais velho que ela, sei que tínhamos os mesmos desejos e expectativas em relação a tudo aquilo que estávamos vivendo.
Não tinha mesmo a pretensão de ser o grande amor da vida dela, apenas estava curtindo o momento de tal forma que entrei de cabeça em tudo o que ela havia me proposto, e agora eu estou aqui, numa cela fria, juntamente com mais 35 homens de vários lugares do país. Pelo menos hoje colocaram um desinfetante forte no vaso e o mau cheiro misturado com o forte cheiro de eucalipto causa ânsia de vômito, mas pelo menos é um cheiro novo...
Bem, era um acordo simples, como eu ia dizendo apenas sermos sinceros um com o outro. Desde sua adolescência ela sempre namorara com meninas, era lésbica desde que conheceu seu corpo e nunca, sequer havia beijado um homem, um primo que fosse, nada.
Seu pai morrera antes dela completar dois anos, tinha uma vaga lembrança de sua figura forte, na maioria das vezes que falava dele eu tinha certeza de que era apenas uma fantasia, baseada no desejo de te-lo ali perto. Isso também me ajudou a ficar com o pé atrás, sabia que às vezes me colocava na figura de pai, ora de amante, ora de um bom amigo, uma presença masculina, isso era tão estranhamente embaralhado em sua mente, mas na minha estava tudo muito claro, eu sabia separar bem as coisas, sabia exatamente o que dizer, a hora certa e o tom correto, como também sabia da hora de ficar em silêncio, enquanto ela sorvia grandes goles de whisk nacional barato eu admirava sua beleza e juventude por trás da fumaça de um cigarro cubano.
Conhecemos-nos meio que sem pretensão, eu era um quarentão que se vestia como um menino de 18 anos e saia para as festas GLS com uma amiga lésbica que passava a noite girando próximo as caixas de som enquanto cheirava benzina e jurava que seu dedo se transformava em uma cabra. Fui comprar uma cerveja (odeio o gosto amargo de cerveja), apenas para ter o que segurar (tipo um objeto cênico), para dar o ar de despreocupado. Lá estava ela, de cabeça baixa analisando uma enorme poça de vômito. Seus cabelos castanhos brilhavam ao refletir o néon, suas mãos tremiam e sua blusa aberta mostrava um dos seios róseo. Fiquei parado reparando a cena e esperando que alguém chegasse para ajudar, ou simplesmente para falar com ela. Cerca de cinco minutos e ninguém se aproximou, seus olhos me olharam como quem perguntam: “o que foi???” me aproximei e perguntei se precisava de alguma coisa, ela não respondeu. Ajeitou a blusa e pegou um cigarro. Tinha um jeito lindo de fumar, uma elegância, uma desenvoltura hollyiwdiana. Ofereci para acender seu cigarro, tomei o isqueiro de sua mão e percebi que sua beleza clássica, madura, nariz adunco, pele branca com algumas espinha salientes denunciavam sua pouca idade, limpou os lábios e disse: “... e aí, tá de carro?”, resolvi mentir: “não! Estou de táxi...” “...porra”. fiquei observando-a fumar. Ajudei a levantar-se e a levei ao banheiro feminino, onde na porta várias meninas se beijavam ignorando quem entrava ou saía, lá dentro ajudei-a a usar o vaso, vomitou mais uma vez, um cheiro azedo de bebida barata tomou conta do universo inteiro.
Após lavar o rosto parecia outra pessoa, qualquer aparência de bêbada estava longe, perguntou numa afirmação: “você é o David, num é?” confirmei e queria sair dali, mas infelizmente a festa ainda estava começando.
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