segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dedicatória


Andei muito, por caminhos que você jamais andará, vivi histórias que jamais te contarei e que jamais chegarão aos seus ouvidos... Já fiz canções que não me lembro como eram, mas eu cantava criando sons, rimas... usando palavras soltas e algumas até faziam sentido. Fui amado, abraçado, beijado, respeitado por muitas pessoas. Gente de longe ouviu falar de mim, da minha letra, da minha forma de amar as pessoas e de abraçar.
Beijei muitas mulheres, afaguei cabelos, desvirginei algumas, toquei em mãos que tremiam ao toque da minha, vi milhares de seios sob minhas mãos, corpos nus sobre o meu.
Mulheres de verdade me fizeram sentir coisas indecifráveis com os lábios, com os olhos, com todo o corpo.
Amigas, primas, conhecidas, desconhecidas, entraram em minha história aos montes, de cada uma aprendi um pouco, amei algumas, desejei todas na mesma intensidade...
Umas usavam meias, outras longos vestidos e cabelos soltos ao vento. Algumas cantavam na igreja, outras recitavam Myrtes Matias com emoção nos olhos...
Hoje algumas pessoas me olham, me admiram, me questionam, me procuram e se espelham em mim.
E eu ainda sou o mesmo, tenho os mesmos olhos, os mesmos lábios e a mesma fome, a mesma sede de amar quem estiver a minha frente.
Escrevo versos como quem manda um bilhete ao padeiro, na facilidade que a familiaridade da letra se expõe para mim.
Sei expressar a dor como se fora um cão numa corrente, porque sei que esse grito me libertará de algo ainda pior que estar por vir.
Sou tudo isso e muito mais... e na cadência dos anos que me restam, na história que se resume sob minha beleza e minha calvicie eu escolhi você para ser o amor de minha velhice, a minha sulamita a me esquentar nos dias frios e a me acalmar quando a guerra começar.
É uma honra que te entrego, ser amada por mim, que tão bem sei apreciar as diferenças e perdoar as mentiras, entender as cleptomanias e as infantilidades...
Entrego a você esse meu coração, que não está cansado de amar e nunca se cansará e que porá ordem na sua casa interna.
Caso não queira esse amor me informe em gestos, saia devagar, leve as coisas, me olhe com desprezo e não me digas palavra alguma, que saberei que tudo que te dou ainda é pouco, e que a honra de por mim ser amada, não cabe na futilidade de seu mundo vazio.

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