sábado, 17 de abril de 2010
O trágico e o lúdico
Por Ricardo Gondim
Rir e chorar dependem do lado para que se olha. Ali na frente, poças lodocentas deslustram a alma. Aqui perto, o vôo irreverente dos pardais desenrugam os lábios para que se abra um largo sorriso. Basta ver a sorte inclemente dos miseráveis para perder o sono. Não é fácil conviver com a desigualdade social que rouba sonhos, tormenta, mata. Mas alegria explode no vértice do sofrimento; bastam o abraço despretensioso do neto, a alegria do casal que adotou, o zelo resiliente da mãe do filho com paralisia cerebral e o trabalho anônimo do voluntário.
Rir e chorar dependem do caminho que se escolheu na esquina deserta. Estradas largas levam ao calabouço. Atalhos despencam em abismos. Avenidas não passam de passarelas para o inferno. Trilhas inóspitas, virgens, são fascinantes. Quanta alegria na aventura de desbravar fronteiras. A felicidade mora alguns centímetros depois da linha do horizonte. Arriscar é tonificante. Fracassar, triunfar, instigar e suplantar-se transformam o tédio em disposição.
Rir e chorar dependem das expectativas que enlaçam a alma. Ilusões implausíveis exaurem, fatigam, esfolam. Promessas irreais, mentirosas, entorpecem como morfina. Ufanismos terminam em ressaca. Coragem de encarar a existência sem quimera, sem negação, sem fuga, produz um júbilo diferente.
Rir e chorar são duas faces no baralho da vida.
Rio e choro sem culpa, a vida é ao mesmo tempo trágica e lúdica.
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