quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mais denso que eu... só eu!


permito trancar-me em mim
numa falsa mentira
sobre meus pássaros mortos e que teimam voar...

e então imagino para mim
uma gaiola

Canção da sertaneja!


Por onde ando
poeira silenciosa
fabrico aos montes
sob meus pés rachados

terra nas vistas
me fazem chorar
corar as faces
nos fins de tardes

bodes e cabras
me enchem o terreiro e os peitos
meu amor na rede
me enche os olhos e a alma

agora que é madrugada
imagino cantigas
silenciosas
rachadas
coradas...

que antes do sol nascer
farei do negro pó
a fumaça do café no bule
como eu
silenciosa...
sumindo na memória

sem rastros...

sábado, 23 de julho de 2011

O Grito

Se eu girasse a chave poderia reviver as coisas todas, sabia que durante todos esses anos ninguém tinha entrado na casa, que poderia estar tudo do mesmo jeito que a tinha deixado, os livros, as cadeiras, os discos de vinil, tudo, tudo estaria lá, guardando a memória dos momentos lá vividos por mim e por todos que por lá passaram.
Já no portão, pude perceber que a ação do tempo tinha sido generosa, apenas um pouco de ferrugem e um resto de limo seco entre a parede e o suporte, a tinta preta um pouco descascada e mais nada.
Uma grama tímida tinha tentado romper os frisos da calçada mas parece ter desistido antes de se tornar uma erva sem importância e morrido há algum tempo que não se sabe quando.
A poeira na entrada e mais nada, a não ser  penas de pardal e um filhote morto no canto, sendo arrastado por formigas marrons e agitadas.
Estava ainda na dúvida se teria mesmo que entrar, se minha vida poderia voltar a ser como era antes, com filhos correndo pelo corredor e Maria entrando nervosamente com sacolas do supermercado para compensar o atraso do almoço, a TV ligada e abandonada na sala, brinquedos largados próximo a porta dos quartos e a algazarra das férias tomando conta das paredes sem se incomodar com os vizinhos...
Lembro-me de que antes de sair uma rachadura entre a porta da sala e da cozinha tinha sido motivo de discussão com Ana a ponto de ter que dormir com os meninos por umas duas noites seguidas...
Mas entrar na casa me traria de volta essas coisas?
Não! Eu sabia que nunca mais voltaria a reviver essas coisas. Não depois do acidente. Depois daquela curva. Depois do cheiro de ferro carro adentro e os gritos aterrorizantes de todos.
Essa memória infeccionava-me a mente e eu me recusava a falar sobre ele com todos.
Girei a chave, pareceu-me ouvir a TV ligada.
Pareceu-me sentir cheiro de carne assada pelo ar, cheiro de sabonete vindo do banheiro dos meninos...
Mais uma volta na chave e lá estavam todos, de roupas brancas e me esperando, sentados no sofá empoeirado.
Ana levantou os olhos e não me disse nada.
Ramon, Adla e Cássia levantaram os braços e me convidaram a sentar.
Era apenas um pesadelo! O carro não tinha derrapado na curva, não tinha dado de frente com o caminhão e os gritos de desespero não tinham sido emitidos com tanto pavor enquanto descíamos a ribanceira descontrolados e girando...
Estavam todos lá!
Ana e seus grandes olhos negros e sempre com o sorriso sincero nos lábios.
Ramon com longos cabelos cacheados e suas mãos pequenas e nervosas segurava o controle do vídeo-game.
As gêmeas estavam vestidas iguais, como sempre e se abraçavam.
Não me disseram palavra alguma, mas entendi que a luz do sol que entrava pela porta entreaberta lhes incomodava.
Sorri e isso fez com que eles sorrissem também.
Agora estou nesse lugar estranho e grito que eles precisam de mim!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

FELIZ DO DIA DO AMIGO, ANTES QUE UM DOS DOIS ACABE!


Amizades acabam, infelizmente acabam. Nem venham me dizer que não era amizade, porque se fosse não teria acabado, acaba sim e pronto.
Tenho experiências próprias, várias para ser mais exato, onde a minha entrega sempre foi total e irrestrita, de me anular, me entregar ao ponto de deixar pessoas importantes na minha vida em prol dessa amizade.
Mas estranhamente era uma coisa unilateral (o que na época não me importava muito) acreditava na incondicionalidade de amor de tal forma que amava sem querer nada em troca, e até fazia questão da evidencia dessa minha preferência nos graus de amizade.
Mas então porque elas se foram? (lembro-me que me pai sempre contava a história de uma senhora que nunca tinha sorte com os vizinhos, não importava onde fosse eles sempre eram ruins, então um dia ela percebeu que o problema era ela...) então era eu o problema? Pensei muito e acho que sim. Sou mesmo o problema, minha super proteção, meu carinho em excesso e meu amor desmedido me cobriram de uma falta de senso comum e não percebi que todos os “sim’s”, poderiam muito bem terem sido substituídos por alguns “nãos” que apenas me fortaleceriam e faria com que minha amiga pudesse perceber que minha falta poderia ser notada, ou que ela também seria responsável por manter a dita amizade, ou então desistir dela enquanto fosse tempo e não me permitisse perder tanto tempo acarinhando a serpente que na primeira oportunidade me picaria sem dó nem piedade.
Inconscientemente quero pensar que fiz a minha parte, mas será mesmo?
FELIZ DO DIA DO AMIGO, ANTES QUE UM DOS DOIS ACABE!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Então:

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Uma Questão de Escolha

Por Pe. Fábio de Melo.
O coração anda no compasso que pode. Amores não sabem esperar o dia amanhecer. O exemplo é simples. O filho que chora tem a certeza de que a mãe velará seu sono. A vida é pequena, mas tão grande nestes espaços que aos cuidados pertencem. Joelhos esfolados são representações das dores do mundo. A mãe sabe disso. O filho, não. Aprenderá mais tarde, quando pela força do tempo que nos leva, ele precisará cuidar dos joelhos dos seus pequenos. O ciclo da história nos direciona para que não nos percamos das funções. São as regras da vida. E o melhor é obedecê-las. Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões. Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples... Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você. É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio. Nestas estradas de tantos rostos desconhecidos é sempre bom que deixemos um espaço reservado para a calma. Preconceitos são filhos de nossos olhares apressados. O melhor é ir devagar. Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que que escolhemos dizer. É simples.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O ÚLTIMO SONETO

O que há, entre meus ossos e eu
que não seja sua presença?
Esse vulto que ainda é meu
Que invadiu sem pedir licença...

Não, não farei de mim o abismo
Onde cairei arrastado pela dor
Que sob teu mais sincero cinismo
A esperança se transformou

Não mais verei teus olhos castanhos
Ou teus seios de tamanhos exatos
Nem te farei  mais versos estranhos

Não espero mais que me sintas
E que me tenha apenas no passado
Só espero que, como sempre, mintas