sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Amante!


Não adianta, não sei amar passivamente, sem usar todo meu coração.
Não sei amar sem os olhos, a boca, os ouvidos, só sei amar assim, de forma intensa, presencial, canibalescamente.
Só sei amar usando todos os ógãos internos e externos, fazendo versos, comprando flores, gritando a todos que o amor rompe minha veias...
Só sei amar assim, deitando e acordando pensando nela, e nesse meio tempo sonhanhdo com cada parte de sua boca macia e seus seios delicados.
Não sei amar via Oi, Tim, Claro, Vivo, orkut, msn ou outro meio...
Amo pelo cheiro de seus cabelos sobre minha cama,
sobre suas pernas abertas e seu corpo doado a mim
Amo me torturando, me odiando, me entregando e indagando,
cantando, assoviando e relampejando em trovoadas eternas...
Amo queimando por dentro e por fora
pelos poros, unhas, pêlos...
pelo sangue e pela água que há em mim
Não sei amar de outra forma.

Só sei amar usando as mãos...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amor versus Liberdade!



Liberdade
: Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem.

Amor: Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração!; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa.

Haverá uma compatibilidade entre essas duas coisas? Há de se pensar.

No popular Liberdade é a não sujeição do "eu" a qualquer limitação que impeça a realização de meu desejos e vontades. Uma pessoa livre é aquela que faz o que quer, onde quer, com quem quer, quando quer e porque quer.

E quem ama valoriza mais o relacionamento com a pessoa amada do que a realização de suas vontades e desejos, amar é de certa forma abrir mão da liberdade...

É ilusão pensar no absolutismo da Liberdade, pois sabemos que ninguem faz sempre o que quer, onde quer, com quem quer, quando quer e porque quer, não é bem assim que a vida funciona.

Quem deseja ser livre sobre todas as circunstâncias e não quer abrir mão dessa liberdade não está pronto para amar nem ser amado, pois o amor não aceita essa individualidade egocêntrica, não há espaço para os dois no mesmo corpo.

Há de se fazer a escolha, encarar esse dilema de frente, e, não sou eu que vou te dizer qual a melhor opção, pois nem mesmo sei.

Entretanto é bom lembrar que a liberdade humana é relativa, está sujeita a diversos fatores que a impedem de ser vivida na sua totalidade (você não pode voar, andar sobre as águas, andar pela BR sem se cansar nem sentir fome e sede, a seu corpo não é permitido ser livre).

Você é livre para amar, essa é uma escolha voluntária, e, prá mim, é a maior prova de liberdade, ser livre da obsessão de uma pseudo-liberdade, para renunciar seu ego, suas fantasias, suas ilusões em nome das relações e do amor.

Terá que escolher ser livre para amar e nessa relação de amor encontrar nas limitações por ela exigida uma forma de exercer a liberdade que só o amor possui.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vista a Dilma



Bem, uma pessoa que eu admiro muito não gostou da minha postagem Vista o Serra, então eu posto aqui o Vista a Dilma e estamos quites:
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Pescado no Bacia das Almas

Deixai que eu morra!


Não me peça nada hoje,
que hoje não estou para dar,
nem conselhos, nem palavras, som algum...
Não me peça chuva, sol, sombra, areia, mar, praia...
nada tenho para dar hoje...
Não sou compreensivo, bom, amigo, ouvinte...
Não tenho ombros, colo, abraço...
Hoje não tenho olhos para ver as suas feridas
nem ouvidos para seu soluço...
Hoje eu não tenho lábios para beijos
nem estou disposto a sentir o cheiro de seus cabelos.
Não me peça nada hoje, minha amiga
que hoje eu serei somente meu
cravarei minhas garras em minha própria garganta
sorverei o gosto do sangue com as dores necessárias
capazes de me manter vivo, estranhamente vivo.
Hoje entrarei em mim de forma violenta
como que para extirpar as parvoíces que me envergonham
por isso, amiga, ouvirás de mim
apenas o ranger dos dentes.

(Amanhã estarei refeito
e farei mil versos para o que me angustia)

Mas hoje deixai que eu morra!
Por hoje deixai que eu morra!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Jogador Espanhol sofre ataque cardíaco em campo!

"O uso de um desfibrilador salvou a vida de Miguel García, meio-campista do Salamanca, clube da segunda divisão espanhola. O atleta sofreu uma parada cardíaca em campo durante partida de seu time contra o Betis e foi atendido ainda no gramado. De acordo com os médicos das equipes, as consequências do acidente poderiam ter sido piores se o atendimento não tivesse sido rápido."
Veja as imagens:

Fonte: Ig.com.br

Isso me fez pensar sobre como rápida podem ser as coisas em nossa vida, num momento estamos alegres, esperançosos e em outros, muito próximos estamos tristes e as lágrimas teimam em rolar...
Bons momentos quase sempre dependem da gente, dependem da forma como vamos encarar as coisas, da leveza de nossas ações, dos nossos gestos, das nossas palavras...
Quase sempre esquecemos que somos nada, somos folha levada ao vento, mas mesmo assim deixamos a vida escapar por entre os dedos.
Vamos viver cada momento, aproveitar os risos que somos capazes de produzir nas pessoas que amamos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Escolha!


Escolhi amar, respeitar, considerar, por mais que isso pareça ultrapassado, fora de moda, você sabe coisa de gente velha...
O caminho do amor, por mais que isso me cause enormes dores, decepções e angustias, foi ele que eu escolhi trilhar, isso me força a perdoar, a apreciar enormes goles de silêncio ainda que as palavras arranhem minha garganta...
O caminho de amar de verdade escolho e que por ele eu ande todos os meus momentos, mesmo que isso me torne uma pessoa indecifrável ( como é o próprio caminho).
Por certo algumas vezes, por ter escolhido esse caminho, precise me envolver em momentos de solidão, de incompreensão, de desprezo, que faz parte do caminhar, faz parte dos sangramentos pessoais, e, quem escolheu viver assim, sabe do que estou falando.
Já entrei nesse vale inúmeras vezes, estou entrando de novo...
Me parece incoerência que esse caminho sempre me traga a esse vale escuro, se faz parte ou não de qualquer espécie de crescimento ainda não descobri...
Não aconselho ninguém a optar por esse caminho, pois há cruzes e coroas de espinho sempre, sempre no final de quem escolheu amar incondicionalmente.
Mas assim que meu tempo no vale terminar, escolherei esse caminho outra vez, que de outra forma nunca saberia viver... nunca!

sábado, 23 de outubro de 2010

Seguindo em frente

Tenho vontade de ir.
De seguir para qualquer lugar do mundo, pode haver sol, chuva, neve, que não me importo. Apenas quero ir em frente.
Esquecer os que me esquecem, sujar meu corpo de lama, mas que seja de lama nova, uma lama que eu ainda não conheça sua densidade ou seu cheiro, uma lama que não conheça minha liquidez e minha alma inodora.
Sim, que vontade que tenho de ir, seguindo o negrume do asfalto, acompanhar com carinho cada curva da estrada, cada subida ou descida...
Não vou levar telefone, note-books, internete, GPS...
Só levarei a mochila e nela uma foto dela, para jogar na Patagônia, quando um dia desses passar por lá.

Nunca diga não a um Panda




Pesquei no Rabisco Criativo

Homem bom merece chifre


Estávamos na praça, domingo de manhã, tinha chovido a noite toda, a cidade estava lavada, mas Olavo não faltava a nosso encontro semanal, fizesse sol ou chuva, e como eu não estva nem um pouco a fim de suas cobranças durante a semana, perdi o amor de mais uns minutos sob os lençóis e fui prá praça ainda dormindo.
Nossos encontros já duravam uns 40 anos, raramente perdiamos nosso minutos de conversa, às vezes nem conversávamos direito, se o assunto fosse muito triste, como no dia da morte de Bazé, que num acidente foram-se ela, a filha e a neta, a gente nem conversava, ficávamos parados, olhando para o pé de figo, pensando...
Quando cheguei ela já estava, apoiado o queixo na bengala e com olhar de desaprovação me mostrou Edésio, o bêbado da cidade ao seu lado tomando um copo de mingal do Alcides...
Depois de receber do Alcides o meu copo Edésio nos saiu com essa:
-Mulher gosta é de ser humilhada, de ser maltratada... Vê eu, um homem bom, sempre cuidei dos meninos, tratava bem Antonia, e no que deu? Chifre... foi isso chifre...
na época quando eu tratava ela mau, era doidinha por mim, depois caí na besteira e no que deu?? fala aí véi, fala aí...
-Chifre - dissemos em uníssono...
Edésio era nosso amigo de infância, fomos até sócios na difusora, mas depois que Antonia foi embora com o mágico do Circo Portugal (Alegria não faz mal), ele se enveredou pela cachaça e acabara assim...
- Sexo oral é humilhação, mulher que chupa, que gosta... é porque gosta de ser humilhada, pisada, tratada como uma vadia...
Soubemos que Antonia sofreu muito nas mãos no Misterioso Wagner, e que voltou anos mais tarde arrependida, mas depois o Mágico veio buscá-la de volta...
Ninguém ousava questionar Edésio quando ele estava assim, tínhamos que concordar...
-Homem bom merece o que????
- Chifre, Edésio, homem bom merece chifre...
Edésio riu seu riso franco e banguela...
O dia estava lindo...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nosso Mundo!


(Florbela)
Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Pousando em ti o meu amor eterno
Como pousam as folhas sobre os lagos…

Os meus sonhos agora são mais vagos…
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno…
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…
O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!…

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Não Gosto de Festas

"A presente terra pode ser levada a sério em sua dignidade, sua glória, sua maldição..."
(Dietrich Bonhoeffer, em carta de 1940 a Theodor Litt)

Eu me sentia culpado por não gostar de festas, de não gostar de multidões, onde centenas de milhares de pessoas pulam, dançam, bebem, te empurram, te xingam e se dizem felizes.
Não eu não gosto de festas! Está decidido, não e não! Falo de festas onde as pessoas estão arrumadas, cheirosas, e se sentindo melhores que todos os outros que não estão ali; falo de festas onde tem musica alta e gente dançando (não sei dançar, seria esse o motivo?); falo dessas onde você tem que pagar para ouvir música que você não gosta (nunca tocam as bachianas nas festas em que vou); falo das que os estrogenos e os testosteronas se esbarram e pedem desculpas querendo se devorarem um ao outro; falo de festas infantis também, onde os adultos enchem a cara de cerveja e brigam com as crianças por estarem correndo e estourando os balões.
Não pensem que não gosto de gente feliz. Gosto, gosto muito de gente feliz, mas feliz de verdade, não a felicidade que termina na quarta-feira de cinzas ou na segunda com uma ressaca que não lhes permitam produzir bem no trabalho até ao meio dia.
Não me sinto mais na obrigação de gostar de festas (nem as religiosas me interessam mais), estou ficando mesmo velho e começando a me preparar para coisas mais fúnebres, como começar a perder parentes e amigos queridos, e as festas, nesses momentos me parecem uma ofensa, me parecem ofensa porque perdi as esperanças de que o mundo possa ser melhor, de que a religião possa trazer algume beneficio, que a cura da AIDS possa acontecer a qualquer momento, perdi todas as esperanças de que os políticos resolvam os problemas da saúde, educação, segurança e outras mazelas de nosso país...
Essa desesperança, como no texto de Paulo Brabo que posto aqui, me desautoriza a exercer a auto-ilusão, num momento em que uma música eletrônica, ou um trio elétrico me estoura os tímpanos...
Queria uma rede, uma morena de olhos verdes com cheiro de flor de laranjeira, uma água fria da moringa e uma sanfona branca tocando Luiz Gonzaga... seria uma festa, mas seria só minha, é que quando se vai envelhecendo, as alegrias e as dores parecem cada vez mais pessoais e solitárias...

Qualquer um


Por Paulo Brabo no Bacia das Almas
Outro dia o filho que não tenho, e que já é grandinho o bastante para fazer esse tipo de pergunta, perguntou-me, olhando para o mundo, se existe esperança.

Era época de Natal e ele queria que minha resposta o enchesse de inspiração e de bons sentimentos; uma resposta que o capacitasse a abraçar o futuro com olhos brilhantes e pés otimistas. Queria, em outras palavras, uma mensagem.

– Esta, meu filho, é uma resposta que palavras não podem dar – menti o menos que pude, e invoquei não sei de onde um sorriso.

Quando ele for mais velho direi que não, que não há qualquer esperança. Andaremos lado a lado por um caminho no meio da tarde e confessarei que não enxergo esperança no mundo, nas religiões e instituições e, ainda menos, em mim mesmo. Direi que as belas mensagens otimistas que os homens trocam em ocasiões solenes são distrações que não chegam nem de perto a alterar a dura malha da realidade. As pessoas não se tornarão mais generosas, menos mesquinhas e mais iluminadas, porque vivi quarenta anos e a cada dia me distancio mais, eu mesmo, desse ideal ilusório.

Ele me olhará nos olhos e, sem dizer nada, abrirá um meio sorriso, porque verá que, embora não exista esperança, embora eu esteja convicto de que não há, cultivo ainda assim alguma.

Se tudo der certo, com o passar dos anos ele aprenderá a guardar a esperança como eu: como quem tem vergonha de permanecer criança e continuar olhando com fascinação para a chama de uma vela que qualquer um pode apagar.

VISTA O SERRA


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Pescado no Bacia das Almas

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Lições de Osminda - 2

Joana
Olhei nos olhos da menina linda que trazia duas xícaras de café fumegante. Lá fora a chuva começava a cair, decidimos passar a noite por lá, pois começava a escurecer.
Joana, no auge de seus 18 anos, neta de Osminda também passaria a noite com a avó.
Já começava a me incomodar comigo mesmo, não conseguia desviar os olhos de Joana nem que quisesse, seus olhos verdes sempre se encontravam com os meus...
Na rede, ouvi a voz de Osminda que do outro quarto à luz opaca do candeeiro estava deitada com a neta:
"...lí uma vez o Mário Quintana, dizia "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver."... A morte é onde mora a saudade... Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto..."
Pensei nisso. Alí no meio da caatinga, uma professora aposentada, escolheu aquele canto da terra para morrer, mas envelhecia com tanta sapiência, tanta tranquilidade que parecia adiar esse momento.
Estranhamente toda a conversa do dia e parte da noite, girou em torno da morte...
Agora, ouvindo ela citar Mário Quintana e Cecília Meireles, percebi na sua voz que ela tinha medo de morrer, porque tinha medo de sentir dor ou porque a vida era muito boa, devia ter medo de ficar só,porque na hora da morte nem todos querem tocar sua mão, porque você não é mais dono dos momentos, de nada, você está prestes a ir...
"... não queria que o tempo voltasse, que minha pele fosse fina e macia como antes... estou feliz assim, aprendi a conviver com a velhice, e agora estamos todos pensando na morte e todos pensam que eu irei primeiro... não me importaria em ir, em abandonar esse corpo, não me importaria mesmo, mas ainda tenho que esperar que a galinha ponha uns ovos para meu bolo de aniversário, por isso não poderei morrer..."
Rimos em silêncio, e em silêncio a noite foi ficando densa...
Acordei pela madrugada, com o corpo quente e com cheiro de flor de laranjeira de Joana se aninhando ao meu sob os lençóis. A rede me parecia o melhor lugar do mundo e a morte uma idéia distante.

sábado, 16 de outubro de 2010

Tô criando um cururu!

Tem muita coisa tôsca na net, essa é uma delas!
Mas se pudéssemos escolher entre isso e as grandes produções dos Hipertensões, BBB's e Fazendas's, seria mais interessante valorizar a criatividade do povo brasileiro, pois aqui pelo menos não tem gente se delgadiando ou tendo que tomar suco de barata para entretenimento bizarro...

Lições de Osminda 1


Tínhamos andado por toda a manhã. O sol causticante da caatinga parecia inclemente no sertão de Canudos, podia-se ver e ouvir as favelas estourando, como se libertassem da casca.
Osminda nos recebeu com um belo sorriso sem dentes. O cheiro de carneiro cozido tomava conta do ar dentro da casinha humilde e limpa, e uma brisa fresca que entrava pela porta da cozinha contrastava com o inferno lá de fora.
A grande mesa de madeira coberta com plástico branco com grandes hibiscos vermelhos em destaque.
Nada de geladeira, microondas, tvs, essas coisas do mundo de fora, que não saberia usar, nem lhe seriam uteis.
Contou-nos uma história de sua infância enquanto colocava na mesa um fumegante prato de carne.
Lá fora um redemoinho próximo à cisterna.
Nos disse Osminda olhando pela janela da cozinha:
"... sabe? acho que a grande coisa que a igreja faz com a gente é meter medo... temos medo de tudo e a culpa é dos padres e dos pastores, temos medo dos sem-terra porque eles podem acabar com os grandes proprietários, temos medo dos gays porque eles podem acabar com a familia, temos medo do dinheiro porque poderia nos afastar de Deus, temos medo da pobreza porque odiaríamos a Deus... Tudo é baseado no medo..."
Osminda era assim, falava do nada, depois ficava em silêncio como que pensando em suas próprias palavras.
Nós apenas andávamos na caatinga para comer de sua inteligência e de seu carneiro guizado.
Ficamos em silêncio, como sempre...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

LOUCURA


Cai minha lágrima como sangue
ardente, teimosa, cadente, soluçante,
Cai minha lágrima como ácido
lâmina fina, em risco cortante...

São os olhos dela, equidistantes
que se lançam para o infinito
me obrigando latente solidão
que há séculos em poemas evito

Em seus seios dormem meu versos
ardentes, teimosos, cadentes, soluçantes
são loucos, sem mente, vazios, diversos

essa menina de olhos cruéis e anos poucos
vai-se para o infinito em vôo razante
e eu nas ruas, junto-me aos errantes loucos...




A viagem


Uma a uma as telas vão se acumulando ao lado da sala numa tão bela e organizada bagunça que o artista nela vê uma outra obra de arte.
De olhos e bigodes grandes ele não sente mais o cheiro da tinta que ainda incomoda alguns vizinhos que de vez em quando aparecem nas calçadas.
Dorme pouco, sua mente não consegue parar, por isso pinta, pinta e pinta e acumula os seus belos quadros ao longo do casarão com histórias grudadas nas paredes...
Não se lembra do passado, de quando criança, das brincadeiras, de nada, na verdade nem lembrava se já fora criança um dia...
Sua mão nervosa pintava, pintava e mais nada sabia fazer...
Um dia acordou lembrando de algo, era o vulto de uma mulher e como sempre sentou-se frente ao cavalete ao lado das tintas e pincéis, mas estranhamente não conseguiu traduzir o que sentia.
Frustrado o dia passou!
Outros dias foram chegando e passando e o artista não pintava mais...
Agora começava a lembrar do passado, dos dias de chuva nas ruas de Petrolina, dos banhos de rio e das brincadeiras com amigos.
A solidão começou a lhe incomodar, lembrou que não tinha mais amigos, que sequer conhecia seus vizinhos.
Passeando por entre os quadros se sentiu absorvido por eles, viajou em cada um, grandes lagos, montanhas, desertos... Nenhuma mulher, criança, homem, não havia pessoas nem animais em seus quadros, em vão procurou a mulher de seus pensamentos...
Ao voltar em si o artista viu seu corpo caído ao chão, pessoas estranhas entravam e saíam do antigo casarão, bombeiros, policiais, médicos, e por fim os homens do IML.
Continuava sem vida..